sábado, 1 de setembro de 2018

Trekking no Vale do Pati - Chapada Diamantina


Em meio à paisagens exuberantes e abraçado por montanhas, o Vale do Pati é um lugarzinho especial localizado no coração da Bahia, na Chapada Diamantina.
O local é um dos destinos mais procurados para os que gostam de turismo de aventura e montanhismo.
Nessa expedição é possível ter uma experiência única, de contato intenso com a natureza e rotina offline, pois boa parte do Vale ainda não tem acesso à internet, energia elétrica, TV e sinal de telefone.
Por se tratar de uma região de difícil acesso, os únicos meios de transporte são à pé, bicicleta, helicóptero ou com as mulas, geralmente utilizadas para transporte de carga/alimentos.
Nas trilhas, o pernoite é feito na casa dos nativos, que transformaram suas residências em hospedarias e nos recebem com muito carinho e uma comida deliciosa. Essas pousadas também conta com área para camping.
Tive o prazer de fazer o trekking no Vale do Pati duas vezes. A primeira vez costumo dizer que foi exploratória, pois nunca tinha ouvido falar ou se quer pesquisado sobre o lugar, então a sensação de descoberta  foi muito mais intensa. Já a segunda vez foi bastante sensorial, pude apreciar com calma a vegetação, fauna, conversar com os nativos, explorar lugares que ainda não tinha ido.

Mirante do Cachoeirão - Vale do Pati


Vou compartilhar com vocês um pouco do que vivi, estudei e aprendi no Vale do Pati.

História do Vale do Pati
Ao contrário do que muitos pensam, o Vale do Pati nunca foi utilizado para o garimpo, na verdade o
Pati nasceu através do auge da produção de café, no início do século XX. Por se tratar de uma região muito fértil, tornou-se um dos maiores produtores e por incrível que pareça, o local já comportou cerca de 2.000 pessoas. Em virtude das políticas econômicas da época, a cultura cafeeira perdeu força e deu lugar ao êxodo rural, onde boa parte dos habitantes do Vale se mudaram para cidades vizinhas. Hoje em dia tem no máximo 30 pessoas morando por lá, onde as mesmas sobrevivem da agricultura e turismo, tudo de maneira sustentável, sem grandes impactos à natureza e à cultural local. A região faz parte do PARNA Chapada Diamantina e é protegida pelo ICMBio.
Mirante do Pati


Transporte para o Vale do Pati
O Vale do Pati está situado no município de Mucugê, há 85km de Lençóis. Há diversas vias de acesso, porém a mais conhecida e otimizada é pelo Guiné, que é um povoado super charmoso, que conta com mini mercados, pousada e restaurantes.
Para chegar até lá eu fiz o seguinte roteiro: avião saindo de Maceió para Salvador, ônibus de Salvador para Palmeiras e por último, van de Palmeiras para o Guiné.
A Chapada Diamantina não conta com meios de transporte eficientes e à disposição constante, geralmente funcionam em horário comercial e estratégico, para levar e buscar os moradores que se deslocam para trabalho/estudo. A minha dica é que você escolha uma agência que cuide disso tudo para você.
Cidade de Palmeiras - Chapada Diamantina - Bahia 

Roteiro Vale do Pati - 4 Dias
É importante esquematizar com antecedência e conversar com o seu guia sobre as possibilidades. Lembrando que é uma área muito extensa, com altos e baixos, então nem sempre os lugares que você viu no Instagram ficam proximos um ao outro. Para dar uma ajudinha, esquematizei um roteiro de 4 dias, com os principais pontos turísticos.
Estrada de acesso ao Guiné

Primeiro dia:
Tive como ponto de partida o povoado do Guiné. O início da trilha é bem puxado, com um nível intenso de caminhada em terreno ingrime, subindo o famoso Beco. Levei em média 1 hora para concluir esse trecho.
Vai faltar fôlego as vezes, então não tenha pressa e vá devagar apreciando a paisagem porque a vista é INCRÍVEL!
Beco do Guiné

Ao completar essa etapa, a trilha continua rumo ao Rio Preto, que possui uns trechos com inclinações leves e um pouco lamacento. A pausa para um lanchinho no Rio Preto é clássica, além de recuperar as energias, o ambiente transmite uma paz imensa, dá nem vontade de sair de lá! Mas é como diz o ditado... trilha que segue!
Gerais do Rio Preto

E o rumo é em direção à um dos meus trechos preferidos, o Gerais do Rio Preto, que é um terreno plano, com direito à vento no rosto e vista privilegiada para o Morro Branco. A caminhada é super prazerosa e ao completa-la você ganha como prêmio acesso ao Mirante do Pati!


Mirante do Pati - Tá vendo esse caminho traçado? Ele é percorrido durante o trekking!
Muito amor envolvido por esse mirante. De lá é possível avistar o ponto de apoio Igrejinha  e todo o percurso que será feito. Durante o mês de Maio o vale fica todo roxinho em virtude da floração das quaresmeiras.
Descida/subida ao Vale. Aquele choque de realidade : enquanto eu faço dengo durante a trilha, um nativo volta pra casa com uma janela de madeira nas costas...

Como dito antes... trilha que segue né? Nesse ponto da trilha é feito a descida ao Vale, na qual exige um certo esforço físico, paciência e atenção, pois além de ser bastante íngreme, o terreno é composto por pedras que por ventura podem estar soltas. Ao finalizar esse trecho, a trilha vai seguir até a Igrejinha e meu conselho é: APROVEITE AO MÁXIMO! Foi o céu estrelado mais lindo que já vi em toda minha vida.
Mirante do Pati - Vista para o Morro do Manoel Victor.

A hospedaria conta com quartos coletivos, área de camping, banheiros, mini mercado (tem coca-cola lá, viu?) e cozinha para quem deseja preparar a própria comida; A noite é propícia para uma roda em volta da fogueira, regada à licor artesanal e muita troca de experiência sobre viagens e trilhas com os outros hóspedes.
Igrejinha do meu agrado, cercada por montanhas!

O motivo pelo qual a hospedaria foi batizada de Igrejinha. Como dito no início do post,  o Vale do Pati já comportou cerca de 2.000 pessoas e contava com estruturas de suporte como igreja e escola (ainda existe escombros dela).


Segundo dia - Cachoeirão por cima:
Acordar cedinho, cercado por montanhas, com cheirinho de natureza misturado ao de café e, de quebra, a paisagem em volta coberta de neblina... são coisas que só o Vale do Pati proporciona!
Por se tratar de um percurso mais longo, o segundo dia vai exigir mais esforço e disposição. Em meio à subidas e descidas, é um dos trechos com mais variedade de vegetação. 
Café da manhã na Igrejinha - Vale do Pati

No meio do caminho tem a Toca do Gavião, onde você poderá fazer uma pausa para lanchar, caso o local esteja desocupado. Geralmente as pessoas passam o pernoite nessa toca. Eu por exemplo já dormi lá, sem barraca, só com saco de dormir. Foi incrível!

Toca do Gavião - Vale do Pati / Nesse momento eu estava preparando meu jantar, enquanto Jazmin dormia rsrsrs Nessa toca tem estrutura para fazer fogo a lenha!

Seguindo a trilha, caminha-se ainda uns 30 minutinhos até chegar no Cachoeirão, que está em 5º lugar no ranking das cachoeiras mais altas do Brasil, com seus 260m!
Poço do Cachoeirão - Parece um coração, né?



É um dos lugares mais surreais que já pude estar. A adrenalina é mais forte que o medo de altura, a vista da imensidão do Vale é hipnotizante.  Se der sorte, e o nível de água estiver elevado, será possível desfrutar de uma piscina natural que se forma próximo ao mirante. Pronto! É lá mesmo que você pode passar o restinho da tarde e logo em seguida ir para o segundo pernoite, na casa de Dona raquel, a icônica do Vale.
Varanda da Casa de Dona Raquel 

A famosa Dona Raquel é nativa do Vale do Pati, assim como seus filhos, que também tem hospedaria por lá. Toda família é muito hospitaleira e de um coração enorme. Assim que possível farei um post especial sobre eles.


Fim de tarde na Casa de Dona Raquel

Casa de Dona Raquel vista do Alto do Luar

Morro Branco laranjinha em pleno pôr do Sol!
A famosa rede de descanso em Dona Raquel.


Varanda encantada!

Terceiro dia - Cachoeira dos Funis
Foi a manhã na qual eu mais senti as consequências da trilha: dores no corpo, principalmente nas pernas, alguns machucados e fadiga. Você talvez sinta o mesmo, mas não desista, pois é um dos atrativos mais lindos e refrescantes. A recompensa é um banho nas águas sagradas da Cachoeira dos Funis.
Caminho rumo à Cachoeira dos Funis - Vale do Pati
A trilha para a cachoeira é bem intensa, subidas íngremes, pulando de pedra em pedra para atravessar o rio, parece que nunca tem fim, mas a parte boa é que toda a trilha é em mata fechada, proporcionando um alívio do sol.
Passei por duas quedas dágua até chegar na maior delas, onde é possível tomar banho em seu poçoe passar o resto da tarde relaxando.
Cachoeira dos Funis

No terceiro dia costuma-se visitar o Morro do Castelo também, mas infelizmente eu nunca tive a oportunidade. Penso que tem algo de muito especial esperando por mim quando esse dia chegar.

Quarto dia - Até breve, Pati!
O meu roteiro de volta foi praticamente o mesmo de ida, sendo que um pouco mais longo, pois eu saí do final do Vale. Sugiro que você inicie a trilha o mais cedo possível, no máximo ás 6h da manhã para pegar um clima mais aprazível e também prevenir contra qualquer imprevisto de transporte de volta.

O que levar para o Vale do Pati?
Além de alegria e coração aberto, leve apenas o essencial. A maioria das agências contam com pacotes em que incluem hospedagem e alimentação, então não se faz necessário levar equipamento de camping e alimentos. Opte por levar o mínimo de peso possível, no máximo 2 mudas de roupas, as quais você poderá lavar caso fiquem muito sujas. Lembre que são longas horas caminhadas com uma mochila nas costas. Segue a listinha básica:
  • Roupas para o trekking (malha de proteção UV, boné/chapeu, óculos de sol, legging com muita elasticidade, bota ou tênis, chinelo para você usar nas hospedarias);
  • Garrafa de água;
  • Roupas de banho (biquíni/sunga);
  • Repelente;
  • Protetor solar (não esqueça, por Deus!);
  • Itens de higiene pessoal (opte por produtos naturais para não poluir o meio ambiente);
  • Farmácia (remédios para uso pessoal).

Qual a melhor época de ir ao Vale do Pati?
O ANO TODO! O Vale fica lindo de todo jeito. Mas se você prefere pegar as cachoeiras bombando, opte por um período de chuvas, no finalzinho de Março até Agosto. Já se você quer céu azul e calor, a melhor época é a partir de Setembro até Fevereiro. Lembrando que durante o mês de maio é tempo de floração das quaresmeiras, então você terá o privilégio de contemplar o Vale pintado de roxinho. Consulte sempre seu guia ou agência, pois as condições climáticas são muito instáveis.

Ficou com alguma dúvida ou quer compartilhar sua experiência? Comente no espaço abaixo. Até a próxima.
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